transpira
inspira
“Em que beco nos perdemos, amor?”
“Sou tua sombra.”
As esquinas que dobrou agora dobram você e te vejo do ponto cego da sacada, com passos maiores que os pés
tropeçando nas próprias pernas
e perdas
soltando penas
pedaços nossos que nunca foram colados
Eram partes mortas abandonando um corpo já abandonado
cheio de marcas
de facas
lágrimas
desgraças tatuadas
Que escorrem e nos escorrem pelo ralo
nos entalam como uma mecha de cabelo
como duas mechas de cabelo
como teu pé tropeçando no próprio pé
como tua boca que fala mesmo enquanto cala
"Depois de tanto tempo."
Quanto tempo se passou nesse passar de tempo
e o vento mostra que ainda somos os mesmos
entre tantos meios
e fins
entre tantos,
eu só escrevi pra você
Seguindo instintos
querendo o eu em você, que clama
que chama
"você não me deu adeus."
“nunca parti.”
Em quantas partidas morremos
em quantas falhas acertamos
em quantas coisas que não foram nos percebem
"Eu."
As esquinas que dobraram você agora nos espiam
avulsos
com o pulso saltando, fazendo labirintos
pelo teu
meu
corpo
Não pára pra observar o que vem vindo
não corre
não tropeça
não se faz do que não somos mais
Saudade
Vontade
De tudo que não ficou porque estamos no olho do furacão que só corre
vigia
espia
faz vigília
Faz da nossa saudade, oração
faz das noites, dias
das ruas, becos
dos ecos, os peitos abertos
voltando pra quem nunca foi;
você
diga a eles
que correm
morrem
diga a eles que
voltei pra quem nunca saiu de mim
você
entre tantos tantos
entre e fecha a porta
“Eu voltei.”
—
Entre tantos,
só escrevi pra você.
Hélida Carvalho
Já estava com saudades de ler coisas do tipo "As esquinas que dobrou agora dobram você". Perfeito! *-*
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