quinta-feira, 16 de maio de 2013

Mais alto que bombas

Sobre as cartas que nunca tive coragem de mandar
sobre o cheiro do teu travesseiro no meu cabelo
sobre sempre querer fugir mas não ter abrigo

Sobre sempre estar indo na direção contrária do pôr-do-sol
sobre imaginar nossas lutas em céu aberto
sobre você me salvar cada vez antes que eu tropece nos próprios pés
sobre segurar na sua capa e voarmos pra cada vez mais distante do que não nos torna eternos
sobre sua mão ser o meu troféu
sobre os seus olhos cansados serem as lágrimas dos meus

Sobre o que não pode ser escrito por ser real demais,
sobre que não pode ter sido, sobre o que foi
ou ainda será

Será que podemos voltar ao dia que éramos completamente estranhos a aurea um do outro e nos encatarmos mais uma vez? Pedir mais um favor, puxar mais um assunto, mandar mais uma musica, um texto, uma risada e um desabafo? Podemos voltar a quem éramos antes de sermos somente nós dois e tudo que nos preenche? Posso voltar aos dias em que te lia como se você estivesse ao meu lado cantando suas crônicas  e me fazendo sair de mim pra te encontrar em algum lugar lá fora? É lá que eu moro, no encanto de estar te conhecendo pela primeira vez todos os dias

E nessa busca sempre voltar por estar indo longe demais
ou caminhando menos
ou parar esperando algo que não pode chegar mas que insiste em sempre vir

É um buraco na rua que desequilibra, uma pipa nos fios do poste, o meio-frio metade branco e metade cor da preguiça de quem lá deixou, uma meia lágrima, um texto sem fim, uma foto estranha de quem realmente somos mas que soa tão sem graça sem nenhum filtro ou sem nenhuma pose, sobre um sonho inacabado por estar atrasado pro que não muda, sobre a duvida de quem ser, do que ser e de como ser quando não se sabe ser ninguém além de você mesmo. É o ônibus que não vem, alguém que pede o lugar, alguém que rouba o celular, paciência, coração e moedas no bolso. É não saber o que falar até que algo tenha que ser dito, é quem somos quando ninguém nos vê, quanto ninguém nos sente e ninguém nos sonha, é aquela musica que me toca e te ouço mesmo com teus silêncios. É o acaso que nos torna amantes do raro e você é tão raro quanto todo repetido pôr-do-sol que alcança a minha janela e implora pra ser visto. Você é toda lua cheia, toda tempestade que fecha o quarteirão e assusta quem sente pouco. Toda poça d'água que é feita do que te fere e atinge todo mundo ao redor mesmo quando não chove. Talvez seja também aquele sopro que vem do nada e me manda embora quando eu só tenho como opção ficar, mesmo que sempre indo, mesmo que nunca existindo. Mesmo que mendigando uma presença tua em cada passada, em cada estrofe, em cada choro por não ter você mesmo sabendo que nada te faz mais meu do que você já ser.

Te queria por um dia dentro dos meus olhos te olhando como te vejo
como me escondo em cada traço do teu rosto
mesmo que nas olheiras de noites não dormidas
mesmo que no riso frouxo, aquele que não te pede e só grita
mesmo que te veja planejando o futuro com base no que você sonha a noite
não sabendo que você só sonha de olhos abertos


Quando se perde dentro da imensidão que você não sabe que é e não te encontro em canto algum dentro de si mesmo tão perto de mim. Poder sentir teu próprio perfume e saber que é como uma droga pra mim. Se abraçar e saber que é lá que eu quero ficar até que o tormento acabe, te dar a mão e caminhar consigo mesmo até que perceba que eu também sou você e perdidos nos procuramos sem saber que já estamos aqui. Aqui nessa confusão que é tirar o cabelo do rosto trinta vezes por hora pra te enxergar da maneira mais limpa e bonita que posso, mas também me esconder atraves das mechas que me escondem de você. Aqui nesse eterno beco sem saída que é não ter pra onde escapar quando te vejo morrendo em cada indecisão, em cada sonho que não vai ser sonhado mais de uma vez, em cada afago que perde o valor. Se olha dos meus olhos e repete que nunca me deixará ir embora de ninguém além de você.


E em caso de não ter pra onde ir, te espero em casa
onde tudo é tão pequeno perto do que temos
e de quem somos quando temos um ao outro
que não sei ser só

Pra um coração que sempre bateu fora do peito e usa palavras grandes como sempre, nunca, amanhã e nós
Eu amo você, meu bem. Hélida Carvalho

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Trecho de "Eu, delírio."

"Sendo despertado por amantes que batem na porta às 5:50h da manhã e esperam ser atendidos com um belo sorriso, e um exalo leve do cheiro que carrego. Devo avisa-los que veneno tem gosto doce, e é um delírio em fim de tarde. Não acostume-se com o sabor, se não vai beber dessa água por muito tempo."

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Escrevo porque não posso sair gritando nas ruas, ou talvez escrevo porque ainda não tenho o que falar. Hélida Carvalho, inspirada na musica que me ouve.

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