quarta-feira, 3 de abril de 2013

Volte pra casa

  Amor, eu só digo adeus quando sei que você vai voltar. Você sempre volta quando estou indo e por isso me recuso a ficar. Olha pela janela, faço vigília todas as noites e ainda chamo o teu nome pela janela, mas nenhum sussurro vem a mim com um recado teu. Você nunca vem? Você nunca vai e assim só somos despedidas. Somos o dobrar da esquina e o tropeçar no meio-fio mal colocado na rua que nos beijamos pela primeira vez. Amor, esse é o meu fim? Sempre usando a mentira como escudo e a ilusão como esperança? Você me vê caída numa poça de lágrimas, você me vê afogada no fundo do poço e não me salva? É só um passo, é só uma mão e tudo o que você me deseja é a morte. Pois me recuso a morrer enquanto teus pulmões ainda estão claros e sem nenhum câncer

   Me recuso a ir a algum lugar que não seja ao teu lado porque o céu aqui não tem piedade dos ateus, nos jogam na sargenta e nos fazem implorar o mar como pedido de natal. Vivo nas ruas vazias a espera de um empurrão, a espera de que a terra se abra sob os meus pés e eu voe inferno abaixo só com uma lágrima no rosto e outro inferno nos olhos. Lágrimas essas que se confundem com as mesmas lágrimas que chorei por saudade, lágrimas que chorei pela tua ida, lágrimas que se recusaram a ficar e ver o resto do meu corpo escorrendo pelos olhos, pelas mãos, pelos pêlos e pelos pés cansados de te procurar somente onde você não está. Você não vem? Me empurra, me espanca até a quase-morte e me diz se você vem. Meus cabelos perdem o brilho assim como os meus olhos e eu não sei mais o que vivi ou o que imaginei viver. Amor, estou tão perdida que o céu estava em tons de azul e eu o vi num tom de castanho dos teus olhos. É assim que o a loucura nos toma como reféns? É assim que o mundo começa a girar de uma maneira que nem o sinto de segurança nos salva da morte?

  Amor, eu não quero quebrar o pescoço num acidente de carro, eu quero quebrar todos os meus ossos em cima do teu corpo nu e me refazer depois de um, dois, três orgasmos. Eu quero que a lágrima depois do sexo se confunda com a lágrima depois do adeus e eu comece a chorar por não saber sorrir. Amor, como você ainda sorriu ao me ver jogada as traças? Como você me construiu com diamantes pra depois me jogar aos porcos como vidro barato? Foi pura maldade você me amar. Foi puro desprezo você me beijar. Foi puro nojo o nosso sexo de cinco minutos. Foi puro, tão puro quando tua áurea no meu céu na boca. Amor, esse é o meu fim. Fui só 90 minutos de uma vida inteira, fui intervalo de um amor, fui o trailer da sua história e sinopse da tua história de amor fracassada. Fui a virgindade dos teus dedos ao escrever, fui boca seca ao te ver, fui olhos vermelhos ao te ver partir. Amor, eu sou tudo o que você não pode aguentar por ser sonhador demais, por querer o mundo na palma da mão e esquecer que tenho mais de um metro e setenta de puro desprezo a quem ama. E só assim vou recuando, recusando, voltando e voando. Assim vou me recusando, recuando, indo e nunca voltando. 

  Amor, me recuso a ficar pra não te ver indo embora outra vez.
Hélida Carvalho

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Trecho de "Eu, delírio."

"Sendo despertado por amantes que batem na porta às 5:50h da manhã e esperam ser atendidos com um belo sorriso, e um exalo leve do cheiro que carrego. Devo avisa-los que veneno tem gosto doce, e é um delírio em fim de tarde. Não acostume-se com o sabor, se não vai beber dessa água por muito tempo."

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Escrevo porque não posso sair gritando nas ruas, ou talvez escrevo porque ainda não tenho o que falar. Hélida Carvalho, inspirada na musica que me ouve.

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