Me recuso a ir a algum lugar que não seja ao teu lado porque o céu aqui não tem piedade dos ateus, nos jogam na sargenta e nos fazem implorar o mar como pedido de natal. Vivo nas ruas vazias a espera de um empurrão, a espera de que a terra se abra sob os meus pés e eu voe inferno abaixo só com uma lágrima no rosto e outro inferno nos olhos. Lágrimas essas que se confundem com as mesmas lágrimas que chorei por saudade, lágrimas que chorei pela tua ida, lágrimas que se recusaram a ficar e ver o resto do meu corpo escorrendo pelos olhos, pelas mãos, pelos pêlos e pelos pés cansados de te procurar somente onde você não está. Você não vem? Me empurra, me espanca até a quase-morte e me diz se você vem. Meus cabelos perdem o brilho assim como os meus olhos e eu não sei mais o que vivi ou o que imaginei viver. Amor, estou tão perdida que o céu estava em tons de azul e eu o vi num tom de castanho dos teus olhos. É assim que o a loucura nos toma como reféns? É assim que o mundo começa a girar de uma maneira que nem o sinto de segurança nos salva da morte?
Amor, eu não quero quebrar o pescoço num acidente de carro, eu quero quebrar todos os meus ossos em cima do teu corpo nu e me refazer depois de um, dois, três orgasmos. Eu quero que a lágrima depois do sexo se confunda com a lágrima depois do adeus e eu comece a chorar por não saber sorrir. Amor, como você ainda sorriu ao me ver jogada as traças? Como você me construiu com diamantes pra depois me jogar aos porcos como vidro barato? Foi pura maldade você me amar. Foi puro desprezo você me beijar. Foi puro nojo o nosso sexo de cinco minutos. Foi puro, tão puro quando tua áurea no meu céu na boca. Amor, esse é o meu fim. Fui só 90 minutos de uma vida inteira, fui intervalo de um amor, fui o trailer da sua história e sinopse da tua história de amor fracassada. Fui a virgindade dos teus dedos ao escrever, fui boca seca ao te ver, fui olhos vermelhos ao te ver partir. Amor, eu sou tudo o que você não pode aguentar por ser sonhador demais, por querer o mundo na palma da mão e esquecer que tenho mais de um metro e setenta de puro desprezo a quem ama. E só assim vou recuando, recusando, voltando e voando. Assim vou me recusando, recuando, indo e nunca voltando.
Amor, me recuso a ficar pra não te ver indo embora outra vez.
Hélida Carvalho
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