segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Eu, delírio II - Aquele ultimo beijo [Parte 1]

Quimi rabiscou num canto sujo da parede, que cheirava a mofo  e misturava-se com a água que descia dos olhos de Deus:

"Somos esse emaranhados de lembranças mortas, com um amor tão imaginário quanto os beijos que não demos ao nascer do sol."

E nenhuma daquelas vozes eram conhecidas, nenhum daqueles olhos que o observaram sorrateiramente já foram vistos antes, nenhum daqueles cheiros que tomavam todo o cômodo era familiar. Então ele se perguntava em silêncio que pecados havia cometidos para que o amor batesse na sua porta, e em lágrimas de sangue pedisse pra ficar. Não havia espaço na cama, na casa, no coração. Não havia brechas, furos, portas, ou raios de luzes que penetravam em seus poros, e a resposta foi silenciosa como o vento que soprou uma canção que dizia que viveríamos pra sempre se não morrêssemos por pecar.

- Live Forever, de novo? Não cansa da mesma voz, mesmo disco, mesma poltrona?
- Não me canso de ser a pessoa que eu queria que fossemos.

E a voz do Liam tomou cada partícula de botão Mudo naquela sala... 
Nada aconteceu por três dias.
Ninguém bateu naquela porta há 3 anos, e ainda tenho os discos em vinil autografados.


Sem valor.
Lembranças.

Lembranças sem valor, só um punhado de coragem em dizer que amei uma sombra. Que se escondia cada vez que o sol ousava a  nos espiar de longe.
Hélida Carvalho

Um comentário:

  1. Eu morro de preguiça de ler textos no computador porque o brilho da tela me cansa. Mas eu não sei como você consegue, primeiro com Nane, e agora um novo personagem tão interessante quanto ela. Num grau diferente é claro.

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Trecho de "Eu, delírio."

"Sendo despertado por amantes que batem na porta às 5:50h da manhã e esperam ser atendidos com um belo sorriso, e um exalo leve do cheiro que carrego. Devo avisa-los que veneno tem gosto doce, e é um delírio em fim de tarde. Não acostume-se com o sabor, se não vai beber dessa água por muito tempo."

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Escrevo porque não posso sair gritando nas ruas, ou talvez escrevo porque ainda não tenho o que falar. Hélida Carvalho, inspirada na musica que me ouve.

Leitores.